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domingo, 9 de janeiro de 2011


Meio pra cá e um tanto lá •Destaque•

•Escrito por•  Heitor e Silvia Reali
Prepare-se para entrar no “país” de horizontes a perder de vista. Os 390 quilômetros que separam Porto Alegre de Jaguarão cortam uma paisagem de domínio das pradarias pampeanas. Nesses campos, destacam-se lagunas e colinas arredondadas, as coxilhas. Ali, à mercê das condições da natureza, com chuvas ciclônicas, granizo e muito vento – “vento que vem ventando”, como disse o poeta gaúcho Mario Quintana –, surgem arrozais e estâncias com cata-ventos enlouquecidos, cercadas de arbustos, compondo verdadeiros mosaicos.
Bosques de eucaliptos abrigam o gado contra o frio e o vento. Beneficiada por esses cenários, a natureza foi a primeira herança de Jaguarão.
Querer encontrar hoje essa cidade com o mesmo visual do século 19, quando era uma das mais importantes do Sul do País, poderia ser ilusão. Mas não é. Seus habitantes conseguiram preservar a essência em cada detalhe, e ela continua uma das mais belas do Rio Grande do Sul. Exagero? Veremos que não.
A começar pela arquitetura, resumo de sua história. Jaguarão foi alvo de disputas sem trégua entre castelhanos e portugueses, brasileiros e uruguaios. Em algumas edificações, como as das ruas 15 de Novembro e 27 de Janeiro, a mescla de culturas atinge o nível máximo. E é por lá mesmo que se pode dar os primeiros passos para desvendar a cidade.
As fachadas da rua 15 preservam a arquitetura eclética, com suas altas portas entalhadas, platibandas e bandeiras que fizeram dela a rua das mais belas portas do Brasil. Um inventário elenca 800 construções nos mais variados estilos – colonial português, art déco, neoclássico, eclético, moderno. Não é à toa que, no início de 2011, a cidade deverá ser declarada patrimônio nacional pelo Iphan.
Outro charme de Jaguarão é o fato de ser uma cidade de fronteira: em um instante, muda-se de mundo. Basta atravessar uma ponte. E que travessia! A Ponte Internacional Mauá, cujos nove arcos se duplicam no reflexo do rio, foi construída em 1930. Deixe para vê-la no fim do dia, quando o pôr do sol será o coadjuvante de sua arquitetura. Mas o que é uma cidade de fronteira? Composta de duas meias cidades, seus habitantes “vão ao exterior sem sair do interior”, segundo o escritor Aldyr Garcia Schlee. Ou ainda, como define o prefeito e historiador Cláudio Martins: “Estamos meio pra cá e um tanto lá”.
Lugar heroico
Uma cidade não é feita só de tijolos, mas de personagens e acontecimentos do passado. A saga do povoamento do extremo sul brasileiro desdobrou-se por vários caminhos: pelo expansionismo dos portugueses e depois pelos bandeirantes. No alvorecer do século 19, a rixa estava feia nessa faixa territorial do rio Jaguarão. Nascia assim, em 1802, a guarnição militar do Cerrito, a fim de proteger nossas fronteiras. Dez anos mais tarde, ela se tornaria Vila de Espírito Santo do Cerrito de Jaguarão.
Em 1865, a coisa piorou. Os uruguaios voltaram à carga, invadindo a vila. Com uma força militar inferior, mas com a ajuda da população, os jaguarenses reagiram e colocaram os invasores para escanteio. No mesmo ano, dom Pedro 2° outorgaria a Jaguarão o título de “Cidade Heroica”. Mas o bafafá na área só terminaria mesmo em 1909, pelas mãos do Barão do Rio Branco – sempre ele –, que intermediou o conflito e demarcou definitivamente as fronteiras. Não por menos, a cidade do outro lado do rio, em sua homenagem, mudou de nome: de General Artigas, tornou-se Rio Branco.
Portas encantadas
Não se pode deixar Jaguarão sem conhecer seu envolvimento com a música. Você já ouviu falar de Eduardo Madruz? Não? Que pena! Mais conhecido como Edu da Gaita, era  obstinado e doce com seu instrumento musical. De todas as suas interpretações, a mais célebre foi Moto Perpétuo, de Niccolò Paganini. Na década de 1940, Edu foi o primeiro do mundo a interpretar a magnífica obra desse violinista italiano em outro instrumento. São 150 compassos representados por 2.400 notas musicais, sem pausa, em quatro minutos. Apesar de tudo, Edu morreu esquecido.
Para conhecer essas e outras histórias, só mesmo flanando pelas ruas desse finzinho de Brasil. A senha é bater em uma das portas encantadas da rua 15, pedir licença e entrar em alguma outra história.
Preste Atenção
Apure os ouvidos para palavras da região: tirãozinho, guaiaca, guaipeva, chinoca, caturrita, butiá, guaiba, charrua… Em Jaguarão, elas se traduzem respectivamente por: pequena distância, cinto, cão, garota, papagaio, palmeira, pântano e indígenas que habitavam os pampas.
Não deixe de assisir
Antes de visitar Jaguarão, uma boa mostra para se compreender os habitantes de fronteira está no filme O Banheiro do Papa, dos diretores uruguaios César Charlotte e Enrique Fernández. Eleito o melhor filme do Festival de Gramado de 2007 e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2007, a história baseia-se num conto do escritor jaguarense Aldyr Garcia Schlee.
O Jaguarão tem mais
Estâncias
As estâncias fazem parte da história dos pampas e revelam a razão do orgulho de ser gaúcho. Agende uma visita nas fazendas centenárias Bandeira e São João do Juncal, que contam com criações de cavalos crioulos, ovelhas e gado.
Museu Dr. Carlos Barbosa
Só a casa de estilo eclético, construída em 1886, já vale a visita. Mas ela abriga rica coleção de móveis, obras de arte e louças do início do século passado. Chamam a atenção as lâmpadas com filamento de carbono, de 1900, ainda em funcionamento.
As ruínas da antiga enfermaria militar, construída em 1883, serão parte de uma das obras culturais mais importantes do Sul do País. O conjunto será concluído em 2011 e deverá abrigar material interativo e explicativo, remetendo-se à época da ocupação dessa região, à sua gente e à importância do bioma pampa.

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