Você é louco por compras?
Agora que as festas de fim de ano acabaram, chegou a hora de encarar a fatura do cartão de crédito ou o saldo da conta bancária. Se você chegou à conclusão que exagerou nas compras e foi tomado pelo sentimento de culpa, deve ficar atento a esses sintomas. Segundo a psicóloga Juliana Garcia, cada vez mais pessoas sofrem de consumo compulsivo. Esse transtorno é caracterizado por um impulso consumista descontrolado e pode ser encarado como um problema de ordem emocional.
"Existe algo muito semelhante entre os transtornos alimentares e o consumo compulsivo, que é o impulso para possuir na esperança de que isso venha a preencher um vazio. Visto que o vazio não foi preenchido, a pessoa entra num ciclo de maior procura pelo objeto que venha lhe preencher e no final se sente culpada pelos efeitos. No caso da bulimia, a culpa vem ao constatar a alta ingestão de calorias, no caso do consumo compulsivo o alto gasto financeiro e o acúmulo de objetos adquiridos", compara a especialista.
Para a psicóloga, o sentimento de vazio tem a ver com a necessidade de aceitação. As propagandas que estimulam o consumo costumam ter como objetivo vender um status, a participação num determinado espaço exclusivo ou a sensação de ser pleno. O apelo consumista pode acabar se encaixando em pessoas que, para resolverem questões relacionadas à baixa autoestima, acabam se envolvendo num ciclo que as deixam mais frustradas. "Na ânsia por ser, a pessoa se apega ao ter, mas isso não basta. O ciclo de compra desenfreada se repete porque ninguém consegue aplacar suas verdadeiras necessidades dessa forma", esclarece.
Delírios de consumo
Esse tipo de distúrbio já foi inclusive retratado na literatura. A saga "Os delírios de consumo de Becky Bloom" mostra o cotidiano de uma consumidora compulsiva, que não resiste a uma liquidação e se vê cheia de dívidas. De acordo com Juliana Garcia, uma das principais consequências que o consumo desmedido pode acarretar na vida das pessoas ainda é o impedimento da concretização dos sonhos materiais. "À medida que sua riqueza escoa sem saber seu destino, sem que haja planejamento do que é importante, a possibilidade de realização material em seu sentido mais amplo fica, de fato, muito prejudicada. Quando a pessoa não cuida de seu orçamento, fica sem autonomia, endivida-se e perde a possibilidade de estar em paz consigo mesma", explica.
Para saber se você está vivendo esse tipo de transtorno, vale prestar atenção em alguns sinais:

  • Sua vontade de comprar parece incontrolável e você sente que precisa ter aquele objeto, custe o que custar
  • Compra por impulso, tendo muitas peças que nunca foram usadas ou objetos praticamente iguais no guarda-roupa. Em alguns casos, a pessoa adquire o hábito de dar esses pertences aos outros, como forma de se redimir, ou o comprador só acumula os bens
  • Pode apresentar um padrão muito rígido e rigoroso consigo mesmo
  • As contas vivem descontroladas e os gastos não acompanham os ganhos, envolvendo-se em dívidas com cheque especial e cartão de crédito todo mês
  • Deseja manter um padrão incompatível com sua renda, mobilizado pelo desejo de fazer parte, ser aceito ou sentir-se adequado
  • O dinheiro vivo não para em sua mão, pois vai direto para pagamento de dívidas

Vítimas do consumismo
As mulheres ainda podem ser as mais afetadas pelo consumo compulsivo. Apesar de não existirem dados estatísticos que comprovem essa afirmação, a psicóloga acredita que o público feminino é estimulado, desde cedo, a ir às compras e também a buscar a perfeição estética. "Não podemos ser taxativos, mas é importante que as mulheres fiquem mais atentas ao modo como lidam com suas riquezas, seja seu dinheiro, sua saúde, suas emoções ou seus desejos. Precisamos aprender a preservar aquilo que é precioso para nós e para isso precisamos cada vez mais reforçar nossa autoestima e empreendermos um trabalho constante de autoconhecimento e autocuidado", lista Juliana.
Nesse sentido, a psicoterapia é um dos principais tratamentos utilizados em compradores compulsivos. A ideia é que a pessoa compreenda o que de fato está buscando, cuide das áreas da vida que vem negligenciando e aprenda a se controlar financeiramente. Terapias complementares, como aromaterapia, florais e homeopatia, podem auxiliar o processo ajudando a clarear a mente e a reduzir a ansiedade.
Confira abaixo algumas dicas importantes que podem ajudar você a frear seus impulsos consumistas e superar de vez o problema:

  • Não deixe para amanhã a busca por apoio psicológico. Talvez pense que já está suficientemente endividado e não pode investir em uma terapia agora. No entanto, é importante lembrar que esse tipo de investimento pode ajudar você a sair dessa situação.
  • Comece a compreender o que o estimula a comprar e perceba quais sentimentos estão presentes quando entra em loja em busca de coisas novas.
  • Tome medidas imediatas: retire os cartões de crédito e talões de cheque da carteira. "Assim você evita as compras por impulso que acontecem em horário de almoço, na ida e volta do trabalho, etc", alerta a especialista.
  • Os grupos de autoajuda, como os Alcoólicos Anônimos, costumam adotar como lema evitar o primeiro gole e pensar que só por hoje não se envolverão com a bebida. "Evitar o primeiro gole é prevenir as recaídas. Pensar em "só por hoje" ajuda a baixar a ansiedade e a viver um dia de cada vez", ensina a psicóloga.
  • Leia a respeito, se informe e converse com pessoas que passam por situação parecida. Sair do mundo fechado de seus próprios problemas pode ajudar.
  • Recupere o prazer de viver, que se manifesta nas pequenas coisas, que não precisam ser compradas ou consumidas. Alimente a sua autoestima de dentro para fora.

De acordo com Juliana, ser bem-sucedido significa ser autônomo, saber exatamente quanto ganha e quanto gasta e investir naquilo que importa, como lazer, formação profissional, saúde, família, alimentação, etc. "É essencial equilibrar presente e futuro, conseguindo usufruir do que é necessário e desejável agora, sem deixar nenhuma parte de lado e reconhecendo suas prioridades", completa.